Madalena trabalhava em Realengo, subúrbio do Rio de Janeiro, empregada doméstica em casa do doutor Otacílio, advogado e cabo eleitoral da Arena. Otacílio tinha suas transas políticas e ajudou na campanha eleitoral do deputado Nina Ribeiro. Como prêmio, ganhou um retrato, com moldura e tudo, do Presidente Geisel. Pôs o retrato no escritório, como homenagem e orgulho cívico.
Madalena era mãe de João, quatro anos, menino peralta, que sobe e desce das janelas como trapezista. Madalena ficava furiosa quando João subia nas janelas. Uma noite doutor Otacílio chegou em casa, foi direto para o escritório trabalhar. De repente, percebeu que o retrato do Presidente Geisel não estava na parede. Saiu irritado:
-- Madalena, onde é que está o retrato do Presidente?
Madalena ficou calada, lívida, doutor Otacílio ouviu o choro de João, lá no quarto de Madalena.
--Por que é que João está chorando?
--Pus de castigo, doutor. Ele está traquinas demais. Não sai de cima das janelas. Uma hora dessas cai lá embaixo e morre.
Doutor Otacílio foi lá dentro tirar João do castigo. Encontrou João em prantos e o retrato do Presidente Geisel na parede do quarto.
-- O que é que a foto do Presidente está fazendo aqui, Madalena?
-- Doutor, é o castigo. O João tem pavor desse retrato. Eu prendo o João, ponho o retrato, ele chora, depois fica bonzinho. É a única coisa de que ele tem medo. Esse menino é demais, doutor Otacílio .
Ele só fica quieto com medo do retrato. Mas depois eu devolvo.
Otacílio escondeu o retrato.
Fonte: Livro folclore politico - Sebastião Nery
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